Gostaria de rever com vocês, nas vésperas das eleições, o que nos diz o Catecismo da Igreja Católica sobre a questão da nossa participação na vida social no tema Responsabilidade e Participação (CIC 1913-1917):
1913. Participação é o empenhamento voluntário e generoso da pessoa nas permutas sociais. É necessário que todos tomem parte, cada qual segundo o lugar que ocupa e o papel que desempenha, na promoção do bem comum. Este é um dever inerente à dignidade da pessoa humana.
1914. A participação realiza-se, primeiro, ao encarregar-se alguém dos setores de que assume a responsabilidade pessoal: pelo cuidado que põe na educação da família, pela consciência com que realiza o seu trabalho, o homem participa no bem dos outros e da sociedade.
1915. Os cidadãos devem, tanto quanto possível, tomar parte activa na vida pública. As modalidades desta participação podem variar de país para país ou de uma cultura para outra. «É de louvar o modo de agir das nações em que, em autêntica liberdade, o maior número possível de cidadãos participa nos assuntos públicos».
1916. A participação de todos na promoção do bem comum implica, como qualquer dever ético, uma conversão incessantemente renovada dos parceiros sociais. A fraude e outros subterfúgios, pelos quais alguns se esquivam às obrigações da lei e às prescrições do dever social, devem ser firmemente condenados como incompatíveis com as exigências da justiça. Importa promover o progresso das instituições que melhorem as condições da vida humana.
1917. Incumbe àqueles que exercem cargos de autoridade garantir os valores que atraem a confiança dos membros do grupo e os incitam a colocar-se ao serviço dos seus semelhantes. A participação começa pela educação e pela cultura. «Pode-se legitimamente pensar que o futuro da humanidade está nas mãos daqueles que souberem dar às gerações de amanhã razões de viver e de esperar».
Diante do que nos diz o Catecismo, gostaria de recordar algumas coisas importantes nesse tempo tão crucial para o futuro próximo do nosso país. Primeiro, a participação nesse processo garante a manutenção da nossa dignidade pessoal, uma vez que nosso voto é único e intransferível e que através dele delegaremos poderes a representantes do povo que devem decidir sobre questões que dizem respeito a nós e a nossos semelhantes e a sociedade de um modo geral.
Segundo, a vida cristã prevê que participemos de modo direto na construção de uma sociedade mais justa e mais fraterna, omitir-se nesse sentido significaria suprimir parte considerável do nosso ser cristão, talvez nos limitando a um mero pietismo, que desencarnado, não nos ajudaria a viver um verdadeiro seguimento do Cristo. Assim, o cuidado com o bem comum e da sociedade não é para o cristão um opcional. A participação consciente e reta no processo eleitoral faz parte também desse dinamismo cristão.
Terceiro, a honestidade deve ser elemento fundamental para nossa vida cristã, revelando-se também critério excelente para a escolha daqueles que nos representam. Não somos das trevas, mas da luz! Nossas ações devem ser norteadas pelo exemplo do Cristo e dos santos que na retidão de suas vidas contribuiram de modo claro para a elevação do humano. Para promover o progresso das instituições estatais, que servem o povo e o bem comum, necessitamos aprender a valorizar a excelência moral, os princípios e valores que estão na base da nossa sociedade, que nasceu como Terra da Santa Cruz!
Quarto, devemos ter bastante atenção a realidades que para nós são irrenunciáveis. A defesa da vida desde sua concepção até a morte natural, a consideração pela dignidade pessoal de todo indivíduo humano, a garantia da manutenção da estrutura familiar segundo sua ordem natural, a liberdade religiosa, a garantia dos direitos fundamentais para que a vida seja vivida segundo o que é humano devem estar estabelicidas como metas fundamentais de todo governo democrático. O Estado democrático é na verdade constituído administrador do bem comum, legitimamente constituído pela sociedade para garantir o direito e a justiça, deve investir o que se arrecada pelos cidadãos para que a sociedade possa sempre gozar de um desenvolvimento sustentável e verdadeiramente humano. Participar da vida social não só implica em escolher os nossos representantes, mas também acompanhar com interesse as ações e empreendimentos estatais, para que sejam realizadas na medida do possível as expectativas de toda uma nação.
Nestas eleições, em consciência, escolham representantes que possam garantir a manutenção desses valores e princípios, que sejam pessoas reconhecidamente idôneas e aprovadas por sua história de vida e compromisso social. Para nos orgulharmos dos nossos representantes, precisamos mostrar nas urnas e na participação civil o que de fato significa nos representar. Não anule seu voto, não vote em branco, não vote por brincadeira ou simplesmente por protesto, escolha antes, dentre os que temos, o que melhor nos representaria e, depois disso, fiscalize sua atuação.
Paz a todos!
Pe. Eduardo Peters