“Na missão de transmitir a vida, eles [os casais] não são, portanto, livres para procederem a seu próprio bel-prazer, como se pudessem determinar, de maneira absolutamente autônoma, as vias honestas a seguir, mas devem, sim, conformar o seu agir com a intenção criadora de Deus, expressa na própria natureza do matrimônio e dos seus atos e manifestada pelo ensino constante da Igreja”.
Esse é um dos principais ensinamentos do papa Paulo VI na Carta Encíclica Humanae Vitae, publicada em 1968 e que trata da regulação da natalidade. O documento foi tema de palestra do padre João Paulo Santos Silva, da Diocese de Luziânia (GO), neste sábado, 19 de novembro, no auditório do Santuário do Santíssimo Sacramento, em Brasília (DF). O evento faz parte do ciclo de formação promovido pelo grupo Promotores da Vida, da Comissão Arquidiocesana de Bioética e Defesa da Vida.
De acordo com o padre João Paulo, apesar de a Encíclica Humanae Vitae ser breve, ela “é densa e traz às claras pontos que precisavam ser esclarecidos”. Ele explicou que o documento foi escrito após discussões sobre a paternidade responsável e o controle de nascimentos durante do Concílio Vaticano II.
Para ele, o papa Paulo VI “aborda a questão com muito realismo”, que pode ser percebido já no primeiro tópico da Encíclica, no qual o papa reconhece as dificuldades pelas quais os casais podem passar: “o gravíssimo dever de transmitir a vida humana, pelo qual os esposos são os colaboradores livres e responsáveis de Deus Criador, foi sempre para eles fonte de grandes alegrias, se bem que, algumas vezes, acompanhadas de não poucas dificuldades e angústias”.
O padre também comentou que “Paulo VI, com muita clareza, vê quais são os problemas atuais que estão relacionados ao controle da natalidade ou à regulação dos nascimentos”. Ele ainda destacou que, ao defender a competência da Igreja para ensinar sobre moral matrimonial, o papa afirma que essa doutrina está “fundada sobre a lei natural, iluminada e enriquecida pela Revelação divina”. Ou seja, “a Igreja não inventou uma moral matrimonial. Essa moral já existe dentro de cada ser humano porque foi colocada dentro de cada um pelo próprio criador. E essa moral matrimonial transcende o tempo, a cultura e as condições de vida em que a pessoa se encontra”, explicou o palestrante.
Ao falar sobre a segunda parte da Encíclica, que traz os princípios doutrinais que fundamentam o documento, o padre João Paulo destacou o primeiro ponto apresentado por Paulo VI sobre a necessidade de uma visão global do homem. Segundo ele, “hoje em dia, mais do que nunca, temos uma visão fragmentada do ser humano e uma fragmentação nociva porque o homem não é visto com um todo”.
Em relação ao amor conjugal citado na Encíclica, explicou que “o matrimônio foi a instituição escolhida por Deus para que os cônjuges colaborassem com Ele no projeto da criação. Quando nós percebemos o matrimônio e a procriação, a geração de filhos sob esse viés, nós vemos que é muito mais profundo a paternidade e a maternidade. É uma colaboração com Deus no projeto de criação”. Ele ainda lembra que para os cristãos “o matrimônio está revestido da graça sacramental, então, além de ser uma união entre um homem e uma mulher e uma colaboração com Deus, é um sacramento. E o sacramento é sempre um sinal terrestre de uma coisa superior”.
O padre João Paulo também abordou o tema da parternidade responsável que, segundo o ensinamento da Encíclica, implica “que os cônjuges reconheçam plenamente os próprios deveres, para com Deus, para consigo próprios, para com a família e para com a sociedade, numa justa hierarquia de valores”.
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Próxima palestra - A próxima formação do grupo terá como tema a Carta Encíclica Evangelium Vitae, que trata sobre o valor e a inviolabilidade da vida humana. A palestra será no dia 10 de dezembro, às 9h, na Paróquia Nossa Senhora do Lago, QI 3, Lago Norte. O evento é gratuito e aberto ao público. Participe!
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** Padre João Paulo Santos Silva - Pároco da Paróquia da Medalha Milagrosa, em Luziânia (GO), e responsável pela Pastoral Universitária. Professor de Teologia Dogmática e Filosofia Tomista no Curso Superior de Teologia, em Brasília, e professor de Teologia Dogmática no Seminário Maior Arquidiocesano Nossa Senhora de Fátima, também em Brasília. Por dois anos foi membro da Comissão Arquidiocesana de Bioética e Defesa da Vida e durante 3 anos foi coordenador dos seminaristas pela vida.