Cada dia que passa no campo da pesquisa biomédica para a obtenção de células-tronco com propriedades terapêuticas, fica mais evidente a inutilidade de pesquisar com embriões humanos com esta finalidade.
O último passo dado, neste sentido, vem do Instituto Weizmann, de Rehovot (Israel), onde o Dr. Jacob Hanna e seus colegas conseguiram aperfeiçoar a técnica do professor Yamanaka, até conseguir uma eficácia de praticamente 100% na reprogramação de células da pele para obter células pluripotentes.
Esta é uma fonte inesgotável de células-tronco para a pesquisa em medicina regenerativa e, evidentemente, uma alternativa definitiva ao polêmico uso de embriões humanos com os mesmos objetivos, mas com um alto preço ético e econômico, dado que, até agora, não houve nem um único resultado promissor.
As descobertas da equipe de cientistas do Instituto Weizmann foram publicadas no dia 18 de setembro, na revista Nature.
Até agora, o principal obstáculo para a aplicação clínica e terapêutica das células-tronco pluripotentes era certa ineficácia em sua obtenção a partir da pele, principal foco das pesquisas atuais neste âmbito.
Isso se devia a que as células-tronco adultas são muito resistentes a abandonar sua natureza diferenciada – neste caso, centrada nas peculiaridades da pele – e recuperar sua condição primitiva pluripotente.
No entanto, com o avanço científico da equipe do Dr. Hanna, a eficácia é de praticamente 100%. Os pesquisadores descobriram que os próprios reprogramadores Oct4, Sox2, Klf4 e Myc, chamados de "fatores de Yamanaka", recrutam um gene repressor chamado Mbd3, que se dedica a reprimir os próprios genes imaturos que eles estão tentando ativar.
Assim, desativando o repressor Mbd3 para que a balança se desequilibre, conseguiu-se erradicar o principal "freio" para que a reprogramação chegue a 100%.
Outro exemplo do significado da descoberta de Yamanaka foram as pesquisas realizadas no Centro Nacional de Pesquisas Oncológicas (CNIO) de Madri (Espanha).
Uma equipe do CNIO demonstrou, pela primeira vez, que o processo de atrasar o relógio das células-tronco adultas, reprogramando-as para torná-las pluripotentes, pode ser realizado também no organismo de um ser vivo adulto.
Estas células-tronco, que se desenvolveram em ratos, têm maior capacidade de diferenciação que as obtidas em laboratório. Ainda que esta nova técnica não tenha impacto terapêutico direto, permite pensar em um futuro, ainda distante, no qual serão os próprios órgãos lesados os que produzirão células-tronco para regenerar-se.
"É um trabalho excepcional – comenta Juan Carlos Izpisúa, diretor do Centro de Medicina Regenerativa de Barcelona. Abre uma nova etapa para a medicina, que é a busca de estratégias que nos permitam regenerar órgãos e tecidos de forma similar aos processos naturais."
O trabalho do grupo de Manuel Serrano, diretor do programa de Oncologia Molecular do CNIO, que também foi publicado na Nature, usou a mesma combinação de genes, mas obtendo resultados surpreendentes e inesperados.
A equipe do pesquisador espanhol introduziu um gene artificial em um rato que, em resposta à administração de um antibiótico (tetraciclina), se ativa e produz o mesmo efeito que o coquetel das quatro proteínas do pesquisador japonês.
A intenção original de Serrano não era gerar células-tronco pluripotentes no interior dos ratos, mas buscar uma forma simples de obter células-tronco embrionárias. E a maneira de conseguir isso era extraindo as células dos ratos com o genoma modificado, banhá-las em uma placa de laboratório com o antibiótico e gerar facilmente cultivos de células pluripotentes.
Mas, em certo momento, ele teve uma ideia. O que aconteceria se administrasse o antibiótico diretamente no rato modificado geneticamente, e não nos cultivos das suas células? "Sinceramente, não confiávamos em que as células fossem se reprogramar dentro do rato – comentou o pesquisador. Não achávamos que ia funcionar." Mas funcionou.
Os ratos modificados de Serrano beberam o antibiótico diluído em água durante uma semana. Ao ativar o mecanismo descrito por Yamanaka e adaptado pelo CNIO, os pesquisadores observaram que as células adultas dos ratos perdiam suas características e adquiriam traços de células embrionárias "que não existem nos organismos adultos", destacou Serrano.
Fonte: Aleteia