Escrevo para comentar as suas últimas aparições na mídia, e dizer-lhe que você não fracassou. Pelo contrário, foi muito melhor assim. Mas antes quero pedir desculpas caso devesse escrever “caríssimo”, pois não sei se você é um menino ou uma menina. Na verdade, não sei nem mesmo se isso foi divulgado. Opto pelo feminino por combinar também com “célula”, sem saber se os seus cromossomos são XX ou XY, se você poderia ter sido batizada como Maria ou como João, caso lhe permitissem prosseguir o seu desenvolvimento.
Peço perdão, também, por te chamar por este único nome que você recebeu, GRNOPC1, que eu considero degradante. Mas sei que você já deve estar acostumada, e assim podemos nos entender.
Esclareço, ainda, que te chamo “caríssima” no sentido mais nobre e humano que essa palavra pode ter. Você me é muito cara, querida, como todas as suas irmãs que se encontram na mais absurda situação em que pode se encontrar um ser humano: congelado em nitrogênio líquido, ou sendo sacrificado em experimentos científicos. Caríssima GRNOPC1, nenhum de vocês merece isso, e penso que é nosso dever clamar bem alto para que cesse essa injustiça.
Sabe, não é nesse mesmo sentido que a Geron te considera “caríssima”. O problema é que você e suas irmãs custaram uma nota preta, mas não estão dando o esperado retorno… financeiro. É por isso que a Geron está desistindo de vocês, porque descobriu que não serão tão lucrativas como os investidores estão exigindo.
Mas, como disse de início, você não deve se considerar uma fracassada. A sua vocação não era ser um remendo celular na coluna de outro indivíduo, mas ser você mesma, desenvolver as suas potencialidades, amar e ser amada.
Deixe para as células-tronco adultas a função de solucionar problemas de saúde. Talvez não sejam tão lucrativas, pois são retiradas de cada indivíduo, e portanto não se transformam em um produto comercial. Mas são muito mais eficientes para proporcionar curas.
GRNOPC1, que o seu sacrifício não tenha sido em vão. Que sirva para as pessoas refletirem que só experimentos éticos contribuem efetivamente para o desenvolvimento científico.
E que você possa descansar em paz.
Com carinho,
Lenise
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Por Lenise Garcia