“Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (Lc 12,15)
Como é importante que escutemos essa Palavra nos dias de hoje! De fato, a vida de um ser humano não pode ser medida pelo TER. Diríamos até que não pode ser medida pelo PODER. Mas deve ser respeitada pelo seu valor intrínseco, pela sua dignidade. A vida do homem é um dom preciosíssimo de Deus para o homem mesmo e para a sociedade como um todo. Um famoso economista dizia que a maior riqueza de um país é o seu povo. Assim quando pensamos na defesa da vida, temos que reconhecê-la como trabalho fundamental para a manutenção do bem comum.
Temos que hoje também fazer um grande esforço para separar o empreendedorismo da ganância. Às vezes penso que podemos considerar o homem, no que diz respeito ao acúmulo de bens, como "homem insatisfeito". Parece que derrubar os "celeiros" citados no Evangelho (suficientes para o que eu preciso, mas não suficientes para o que eu produzo) para construir maiores, tornou-se hoje a grande obsessão de quem trabalha. Falta generosidade na lógica do acúmulo. No Evangelho, um homem que já era rico, percebendo que produziria ainda mais do que aquilo que o já o tinha feito rico, ao invés de empreender no caminho da solidariedade, fecha-se no seu "mega bem-estar", pensando em si mesmo: "Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!" (Lc 12, 19). Como mudar essa mentalidade?
Paulo nos convida a buscar as coisas do alto. A caridade, a vida virtuosa, a beneficência, a bondade, são riquezas que brotam da generosidade humana e que dignificam tanto quem recebe como quem dá. Temos que acumular tesouros no céu, temos que qualificar o humano em nós não com as posses, mas com a excelência. O nosso espírito empreendedor deve ser utilizado não só para a produção de riquezas materiais, mas também deve ser colocado a serviço da riqueza espiritual, só assim não seremos supreendidos pela vida futura, que se apresenta a nós como chamado à plenitude: nesse momento não importará aquilo TEMOS, mas aquilo que SOMOS. O Senhor pode nos perguntar: O que você fez de bom para alcançar a vida eterna?
Pe. Eduardo Peters