O secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Leonardo Steiner, diz ser a favor de debater sobre aborto nas eleições municipais deste ano, assim como corrupção, casamento entre gays e outros temas que dizem respeito "ao direito da pessoa humana".
Mas a recomendação geral da Igreja Católica aos seus fiéis nas eleições municipais será "votem em ficha limpa".
Dom Leonardo, 61 anos, é da quarta geração de uma família alemã de Santa Catarina. Bispo há oito anos, assumiu o cargo na CNBB no ano passado. Em entrevista ontem ao "Poder e Política" , projeto da Folha e do UOL, ele reclamou do governo da presidente Dilma Rousseff. Afirmou que tem enfrentado dificuldades para atuar em algumas comissões consultivas das quais sempre participou, não quis individualizar as críticas e também preservou a presidente.
Disse também que o governo federal ainda não liberou os recursos necessários para as obras e preparações necessárias na organização e infraestrutura para receber o papa Bento 16, no Rio, no ano que vem, quando a cidade hospedará a Jornada Mundial da Juventude, que deve reunir milhões de pessoas de 23 a 28 de julho de 2013.
Sobre a queda do número de católicos no Brasil, o secretário-geral da CNBB disse ter dúvidas sobre a metodologia do IBGE no Censo que apontou uma perda de 1,7 milhão de fieis no período de 2000 a 2010. Disse que o número de sacerdotes católicos subiu de 18 mil para 22 mil. Afirmou também não acreditar que o número de evangélicos ultrapasse o de católicos em algumas décadas. "Preocupa mais a Igreja Católica o número de pessoas que se dizem sem religião".
A seguir, trechos da entrevista.
Folha/UOL - Qual é a diretriz da CNBB para as eleições municipais deste ano?
Dom Leonardo - Votem em ficha limpa. Foi uma longa batalha, na qual a CNBB se engajou. Não podemos voltar atrás. Eleições municipais são mais disputadas, mais intensas. Da nossa parte existe o desejo de darmos uma orientação da boa escolha daqueles que hão de cuidar do município.
Temas nacionais também devem estar presentes, como aborto e casamento entre pessoas do mesmo sexo?
Deve fazer parte do debate das eleições municipais sempre aquilo que diz respeito ao direito da pessoa humana. A questão da corrupção, da ficha limpa.
Mas é legítimo um candidato a prefeito apresentar como tema de discussão liberalizar o aborto?
O debate ele tem que ser livre. As pessoas podem e devem ter o direito de expressar suas concepções. Ajuda muito ao eleitor quando ele [candidato] coloca a questão do aborto, a questão da corrupção. Mas não só para angariar voto, mas como uma questão realmente política.
Qual é a posição da Igreja Católica hoje sobre o uso de contraceptivos?
Não se pode sempre usar contraceptivos sem mais e sem menos porque as relações precisam sempre estar abertas à vida. Muitas vezes se quer facilitar o prazer simplesmente pelo prazer. Mas em relação aos grupos de risco tem uma declaração do Santo Padre [flexibilizando o uso], colocando a questão da vida humana, da saúde humana.
Como está a relação da Igreja Católica com o atual governo e como foi com os anteriores?
Eu tenho a impressão que os governos têm procurado ouvir. Mas nós sentimos também, não no primeiro escalão, alguma dificuldade de relação.
Que tipo de dificuldade?
Às vezes, a participação nossa nos conselhos [consultivos de Ministérios]. A CNBB participa em diversos conselhos.
Há algum impedimento?
Existe uma espécie de resistência, sim. De que não é muito tarefa religiosa ou uma tarefa da Igreja [opinar] em um ou outro conselho.
O sr. poderia especificar?
Não é muito conveniente.
É governo como um todo?
Não. A interlocução que temos com os ministros tem sido positiva. Nenhum ministro se recusou a me receber.
A seguir lista de vídeos da entrevista de dom Leonardo Steiner à Folha e ao UOL:
1) Quem é dom Leonardo Steiner? (1:02);
2) CNBB contesta queda de fiéis católicos no Censo (2:23);
3) CNBB: Brasil ganhou 4 mil padres nos últimos anos (1:02);
4) CNBB: Alta dos sem religião é pior que baixa católica (0:53);
5) CNBB: número de evangélicos não passará o de católicos(2:15);
6) Padres cantores mostram rosto da Igreja Católica (1:56);
7) CNBB: posição católica contra aborto é definitiva (2:21);
8) Camisinha: CNBB critica "facilitar prazer por prazer" (2:13);
9) CNBB se diz preterida por setores do governo Dilma (2:43);
10) CNBB: Igreja não criará partido político no Brasil (2:06);
11) Aborto também é tema de eleição municipal, diz CNBB (2:28);
12) CNBB: Dilma deve dar verba para visita do papa em 2013;
13) Íntegra da entrevista, 40 min.;
Fonte: Folha de São Paulo