As novelas brasileiras influenciam as ideias das mulheres sobre o divórcio e têm impacto significativo sobre as taxas de natalidade. Essas foram as conclusões de dois estudos recentes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Os estudos analisaram o papel da TV no comportamento dos brasileiros durante três décadas. Intituladas "Novelas e fertilidade: evidências do Brasil" e "Televisão e divórcio: evidências de novelas brasileiras", as pesquisas apontaram diferenças marcantes entre as regiões cobertas e não cobertas pelo sinal de televisão.
Uma das constatações dos estudos foi que as taxas de fertilidade no país caíram 60% desde a década de 1970 e os divórcios aumentaram mais de cinco vezes desde a década de 1980. Neste último período, a presença de aparelhos de televisão aumentou dez vezes no país. Hoje, cobre mais de 80% das residências brasileiras.
Essa expansão, principalmente da Rede Globo, que alcançou cobertura de 98% dos municípios do país na década de 1990, permitiu que os pesquisadores analisassem como a chegada do sinal afetou os indicadores sociais nessas regiões.
O primeiro estudo mostrou que as taxas de fertilidade foram significativamente mais baixas nas áreas alcançadas pelo sinal da Rede Globo. A probabilidade de uma mulher ter um filho nas áreas cobertas pela TV caiu 0,6 ponto percentual a mais do que nas áreas sem cobertura. O efeito é comparável a um aumento de dois anos no nível de escolaridade das mulheres.
Divórcio é maior em áreas cobertas pelo sinal de TV
A mesma pesquisa também revelou um impacto da TV sobre os divórcios, principalmente nas pequenas comunidades em que grande parte da população tem acesso ao sinal. Nelas, houve um aumento de 0,1 a 0,2 ponto percentual no número de mulheres entre 15 e 49 anos divorciadas ou separadas.
Os dois estudos analisaram o conteúdo de 115 novelas transmitidas pela Globo entre 1965 e 1999. Estatisticamente, elas mostram um modelo de família bem específico: pequena, atraente, branca, saudável e urbana. Entre as principais personagens femininas, 62% não tinham filhos e 21% tinham apenas um. Em geral, as famílias mais felizes eram pequenas e ricas, enquanto as infelizes eram pobres e numerosas.
Fonte: O Globo