Texto sobre o mercado da concepção, compra e venda de espermatozóides pela internet.
Escrito por Wagner Moura e publicado em seu blog O Possivel e o Extraordinário (http://diasimdiatambem.com/)
Atenção, freguesa! Espermas de homens atléticos, altos, inteligentes, loiros, olhos azuis, da mão grande e muito mais! Vai peder essa oportunidade?
Ai, chegaram!!! Vem gente! #vaiterbolo
Essa bicicletinha é real e usada na Dinamarca para o transporte de sêmen e promoção das clínicas de inseminação artificial do país. Trata-se do mercado da concepção movimentado graças, especialmente, às mulheres independentes e a casais inférteis, todos, é claro, com a melhor das intenções do mundo. E de boas intenções… Você sabe o ditado!
Eu fico pensando o que um homem tem na cabeça para vender seus espermatozóides e saber que vai desgraçar com a vida de dezenas de pessoas que um dia, obviamente, vão querer saber quem é, afinal o pai delas e quem são os irmãos dela. Essa “curiosidade” em saber sobre a história dos filhos de pais “doadores” fez nascer o site Donor Sibling Registry.
É um site que ajuda mães com “produção independente” a descobrirem os meio-irmãos dos seus filhos espalhados pelo mundo graças a “doadores populares” (homens que decidem ser reprodutores como qualquer boi ou cavalo a troco de uma ajuda no orçamento). O site é americano e causa desconforto entre as clínicas de fertilidade (o mercado da concepção) que se vêem diante de um verdadeiro movimento pedindo a criação de leis que garantam o acesso a informações sobre a localização e o histórico médico do doador de sêmen, uma vez que não existe regulamentação para isso nos EUA.
Por causa dessa loucura há um “doador popular” com 150 filhos, nos EUA. Esses irmãos podem, perfeitamente, cometer incesto sem saber “graças” ao lucrativo negócio da concepção. Um negócio que poderia atender tranquilamente pelo nome de “eugenia popular”. Eugenia é exatamente isso: selecionar pessoas que merecem existir das que não merecem existir baseado em características físicas e habilidades. Não é *exatamente* isso que tais clínicas fazem quando oferecem “doadores populares”?
Devem nascer somente os inteligentes, bonitos e saudáveis. É claro que mesmo que escolhessem burros, feios e doentes o problema não estava resolvido! O problema maior é transformar a concepção humana em um grande mercado. Isso não pode estar certo, minha gente!
Como por meio de um site na internet você escolhe quem vai ser o seu filho? Isso é possível. Eu não vou dizer qual o site, não que isso vá impedir as pessoas de comercializarem a concepção de seus filhos, mas é desconfortável até mesmo citar o site que faz isso! O site é praticamente um Amazon da concepção! Eles prometem rapidez na entrega do sêmen, além de qualidade do “material” e a ficha completa com detalhes da vida do doador e uma foto dele quando bebê.
É ridículo, veja:
Dados de um rapaz de 21 anos que trabalha como telemarketing e está vendendo 68 de seus espermatozóides dinamarqueses. Eles valem de 150 a 350 euros a unidade, pelo que entendi…
Na compra a pessoa informa, inclusive, se tem “o número promocional”, provavelmente para obter um desconto:
Há todo tipo de doador, não só estudantes desesperados por um troco. Li sobre um brasileiro, filho de diplomata português, que, inclusive deixou uma cartinha para a futura mamãe, escrita de próprio punho, onde ele fala que o nascimento de uma criança é um dom de Deus e deseja que a criança – que por acaso é filho dele!!!! – traga muita alegria para a compradora.
É surreal. Mas são os nossos tempos.