Bispos australianos falam de “batalha moral” na nação
MELBOURNE, sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011 (ZENIT.org) - A Austrália atravessa atualmente uma "batalha moral", advertem os bispos deste país aos juristas e magistrados, diante do anúncio de um projeto de lei que legalizaria a eutanásia em todos os estados australianos.
Isso, junto com a questão da liberdade religiosa, tem sido o centro da pregação nas Red Masses, advertindo sobre o "poder da lei e a fraqueza da nossa natureza".
As Red Masses (traduzido literalmente como "Missas Vermelhas") são celebrações da Eucaristia com as quais se começa o ano jurídico, uma tradição da Alta Idade Média europeia, que continua até hoje nos países de cultura anglo-saxônica.
Nelas, pedia-se ao Espírito Santo que descesse sobre os advogados e juízes, para que pudessem julgar de forma justa. O apelativo "vermelhas" se deve à vestimenta usadas pelos sacerdotes, referindo-se a Pentecostes.
A arquidiocese de Sydney transmitiu uma Missa celebrada na segunda-feira pelo bispo Anthony Fisher, na Catedral de Santa Maria.
Dom Fisher falou para mais de 1.000 juízes, advogados, promotores, acadêmicos e professores de Direito, bem como aos estudantes de direito, que estão à espera do projeto de lei que legalizaria a eutanásia nos diversos parlamentos australianos.
"Poderíamos estar à beira de legalização, em algum lugar deste país, do assassinato de pessoas que sofrem por parte dos que vivem confortavelmente, dos mais vulneráveis por parte dos poderosos, e dos doentes por aqueles que deveriam ajudá-los", advertiu.
O próprio Dom Fisher era um advogado estagiário, antes de ir para o seminário.
Em sua homilia, destacou o caso de Salomão, "reconhecido e respeitado por sua sabedoria e considerado o juiz mais sábio de todos", mas que depois foi vítima da cobiça de uma mulher poderosa e rica que o fez cair em desgraça e deixar de falar com a sabedoria divina.
"Ele é um exemplo para todos nós, já que experimentamos o poder da lei e também a fraqueza da nossa natureza", disse o bispo.
Gratidão e vigilância
O arcebispo Denis Hart, de Melbourne, celebrou uma "Missa Vermelha" na segunda-feira, na Catedral de St. Patrick, e a homilia foi proferida pelo bispo auxiliar, Dom Timothy Costelloe.
Dom Costelloe focou seu discurso na liberdade religiosa, dando o exemplo de São João Bosco e referindo-se à mensagem do Papa Bento XVI para o Dia Mundial da Paz.
Citando a mensagem do Santo Padre, o prelado explicou: "O que o Papa diz é que, naturalmente, o reconhecimento e a proteção do direito à livre prática da fé religiosa é uma condição necessária para a manutenção da justiça e de uma sociedade pacífica".
O bispo admitiu que a mensagem do Papa se refere especificamente à violência contra os cristãos, em particular no Oriente Médio. Mas disse que "devemos nos perguntar se no nosso país há perigos potenciais à liberdade religiosa".
"Assim como muitos de nós nos reunimos em igrejas por toda a cidade durante a última noite de Natal e no dia do Natal para celebrar o nascimento de Cristo, poucos de nós teríamos pensado em dar um só passo, se existisse a possibilidade de um ataque às nossas igrejas", disse o prelado. Também sugeriu aos seus ouvintes que agradecessem por esta "liberdade maravilhosa" da qual "nem todos os países podem desfrutar".
"Sentimos gratidão, mas, ao mesmo tempo, temos de estar vigilantes - disse o bispo Costelloe. As liberdades que temos poderiam facilmente ser ameaçadas."
Neste contexto, referiu-se à "interminável batalha" do aborto.
"Quantos de nós poderiam imaginar que, nessa situação, inclusive a liberdade dos médicos e de outros profissionais de exercer o seu direito de objeção de consciência e não cooperar de forma alguma em procedimentos de aborto, teria sido proibida pela lei?" refletiu o bispo.
"Estamos conscientes de que existe uma pressão constante para permitir a legalização da eutanásia. Devemos buscar uma visão alternativa ou precisamos nos preparar para um resultado semelhante?"
Em busca da verdade
Dom Costelloe destacou a declaração do Santo Padre, que disse que no coração da liberdade religiosa "está o direito de cada ser humano de buscar a verdade".
O bispo continuou: "A verdadeira razão pela qual a liberdade religiosa deve ser protegida e garantida tem a ver com a verdade mais profunda dos seres humanos, que são feitos por Deus e para Deus. Negar às pessoas o direito de responder a este Deus plena, livre e abertamente é uma traição ao verdadeiro significado do que o serviço público, em todas as suas formas, deveria ser".
"Estando mais um ano ao serviço da nossa sociedade, o Papa Bento XVI nos convida a manter nossos olhos firmes nesta verdade fundamental. Os seres humanos são criados por Deus. Quando esquecemos isso e excluímos Deus da esfera pública e privada, então as nossas vidas individuais e em sociedade começam a ruir; não entendemos a nós mesmos nem aos outros, e não compreendemos a verdadeira natureza do mundo em que vivemos."