Quem é pai ou mãe vai concordar: ter filhos é descobrir a nossa gigantesca capacidade de amar incondicionalmente. A primeira vez que eles engatinham, dizem a primeira palavra, escrevem o próprio nome. Cada conquista deles emociona. Imagine tudo isso multiplicado por três, quatro ou cinco. Assim, não é difícil entender os casais que colocaram o sonho de ter vários filhos em prática.
Nos anos 1950 e 1960, ter uma família numerosa era bastante comum. E mesmo hoje, ter a casa sempre cheia e animada, com vários irmãos que crescem e aprendem juntos, pode não ser um bicho de sete cabeças. Para a psicóloga familiar Cléia Cunha, famílias numerosas precisam de um planejamento familiar significativo. De acordo com a especialista, é preciso ressaltar que não só o aspecto econômico deve ser levado em conta, o ganho afetivo entre pais e irmãos é muito importante.
A tendência atual da individualidade, no entendimento da psicóloga, fez de muitos lares verdadeiros 'hotéis'. “Hoje as pessoas acabaram se tornando um pouco sozinhas em casa, com frigobar e laptop no quarto. Em uma família grande os filhos dividem espaços e todos adquirem responsabilidades”, explica.
Casa cheia
Companhia é o que não falta na família dos comerciantes Aléssio Nadalin, de 48 anos, e Ozana Cristina Nadalin, 47. A união resultou em 11 filhos: Ana Carolina, de 25; Lucas, de 23; Ana Paula, de 22; Ana Cristina, de 18; Ana Flávia, de 17; as gêmeas Ana Beatriz e Ana Clara, de 16; Luiz Felipe, 15; Luiz Miguel, de 12; Luiz Gustavo, de 11; e a caçula Ana Helena, de 9 anos. Ter uma família numerosa, para Ozana, não foi um planejamento do casal num primeiro momento, mas aconteceu naturalmente, aos poucos. “Depois do terceiro filho, me tornei uma expert em gravidez: tirava quase tudo de letra e não me preocupava com qualquer machucado deles”, comenta a mãe.
Com o crescimento da família, o casal descobriu os benefícios de ter muitos filhos. “Parece que quanto mais filhos você tem, menos trabalho dá. A família sempre está em clima de festa e companheirismo”, brinca a comerciante. No começo, a mãe reconhece que cuidar dos pequenos era mais complicado. Ozana teve a ajuda de babá e empregada para conseguir conciliar a maternidade com a profissão. Quando os mais velhos cresceram, ganharam responsabilidades e começaram a ajudar e cuidar dos mais novos. “Eles se ajudam na lição de casa. Os que sabem mais matemática ensinam os que têm dificuldade na matéria, e assim por diante”, descreve.
Mesmo com os diversos benefícios de se ter muitos filhos, Ozana fez algumas renúncias para que o relacionamento familiar permanecesse saudável. Formada em Serviço Social, a mãe dos 11 preferiu não exercer a profissão, para tornar sua rotina diária mais flexível e dar atenção à família.
“Por mim, eu teria ainda mais filhos”
A rotina atarefada de Alessandra Abage Gomes, de 38 anos, tem a ajuda de uma babá, uma empregada e um motorista. A equipe ajuda a empresária a dar conta dos afazeres diários e das quatro filhas: Maria Luiza, de 16 anos; Gabriella, de 10; Giovanna, 9; e a pequena Maitê, de 2 anos.
Com as quatro alegrando a casa, Alessandra diz que não há tempo para depressão. Na visão da mãe, a convivência diária entre as irmãs ajudou-as a viver em equipe. Fora o ganho na educação delas, a família toda lucra com a rica relação afetiva em casa. “Eu fiquei com o coração mais mole depois de virar mãe, mais babona. Por mim, eu teria ainda mais filhos”, confessa.
À espera do quinto filho
Grávida de sete meses do quinto filho, a psicóloga e pedagoga Regina Pick, de 39 anos, conseguiu conciliar bem os estudos com a maternidade. A mãe de Heloísa, de 15 anos; Felipe, 13; Guilherme, 10; e Alice, de 2 anos, fez três pós-graduações depois de ser mãe. O segredo para conseguir se dedicar aos estudos e aos filhos está no apoio do marido, o analista de sistemas Clevan Ricardo da Costa, de 43 anos. “Ele me ajudou muito com as crianças. Enquanto eu assistia à aula, ele ficava com eles do lado de fora da sala me esperando, para que eu amamentasse durante os intervalos”, conta a mãe.
Regina confessa que o dia a dia é intenso e atarefado, mas não chega a ser muito complicado. “Eu tenho que ter tudo organizado, mas não vejo nada impossível. Acho que ser mãe de cinco filhos não é diferente de uma mãe que tem dois ou três. Se você faz para dois, faz para cinco”, explica. Para o casal, ter a casa cheia e animada é muito prazeroso, apesar do trabalho e de algumas dificuldades. “Algumas pessoas nos falaram que se arrependeram de não ter tido mais filhos. A gente não ouve isso de pais com muitos filhos. É uma delícia ter a casa sempre cheia”, resume.
Sonho em prática
Casada há 16 anos, a cerimonialista Djane Brandalise, de 38 anos, e o advogado André Luiz Brandalise, de 39, queriam muito construir uma família grande. “Se for pensar só no lado financeiro, no conforto, em viagens e comodidade, não se tem filho nenhum”, afirma a cerimonialista. Para ela, o fato de o casal ser unido e estar sempre em harmonia na criação dos quatro filhos faz toda a diferença no relacionamento.
Os colegas de escola estranhavam a naturalidade que os filhos do casal tinham para compartilhar e dividir as coisas. Felipe, de 15 anos; Giuseppe, 13; Laura, 12; e Bruna, 10 anos, aprenderam desde pequenos o conceito de coletividade. “Aqui em casa tudo é comunitário. O computador, assim como o videogame, tem horários definidos. Eles sempre souberam dividir”, garante Djane.
Gazeta do Povo
Segunda, 14 Julho 2014 00:00
A grande família - Histórias de pais que resolveram ter uma família grande
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