Na manhã desta segunda-feira, 13 de janeiro, o Papa Francisco recebeu na Sala Régia, no Vaticano, os membros do Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé – para um dos discursos mais tradicionais do ano.
Diante de centenas de embaixadores, o Papa fez um balanço do ano que passou, definindo-o “denso de acontecimentos não só na vida da Igreja, mas também no âmbito das relações que a Santa Sé mantém com os Estados e as Organizações Internacionais”, e falou das inúmeras crises que acometem a humanidade.
A primeira delas diz respeito à família, pois muitas estão divididas e dilaceradas “não só pela frágil consciência do sentido de pertença que caracteriza o mundo atual, mas também pelas difíceis condições em que muitas delas são forçadas a viver, chegando ao ponto de lhes faltarem os próprios meios de subsistência. Por isso, tornam-se necessárias políticas adequadas que apoiem, promovam e consolidem a família”.
Em especial, o Pontífice falou dos idosos e dos jovens como esperança da humanidade: os primeiros trazem a sabedoria da experiência, enquanto os segundos nos abrem ao futuro, impedindo de nos fecharmos em nós mesmos.
“Conservo viva na mente a experiência da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro. Pude encontrar tantos jovens contentes! Havia tanta esperança e expectativa nos seus olhos e nas suas orações! Tanta sede de vida e tanto desejo de se abrir aos outros!”
No ano que passou, disse ainda o Papa, vimos o resultado do egoísmo e do isolamento, que geram sofrimento e desespero – como o verificado na Síria. “Não cesso de esperar que tenha finalmente termo o conflito na Síria”, disse Francisco, recordando o dia de jejum e oração convocado em setembro passado para afastar o perigo de uma intervenção militar externa. “Agora requer-se uma renovada vontade política comum para pôr fim ao conflito. Nesta linha, espero que a Conferência «Genebra 2», convocada para o próximo dia 22 de janeiro, marque o início do desejado caminho de pacificação.”
Continuando no Oriente Médio, o Pontífice manifestou sua preocupação pelas dificuldades políticas no Líbano, no Egito e no Iraque, e pelo êxodo dos cristãos. Quanto ao Irã, expressou satisfação pelos significativos progressos realizados sobre a questão nuclear, assim como pela retomada das negociações entre israelenses e palestinos.
Na África, o Papa citou vastas áreas da Nigéria, onde “não cessam as violências e continua a ser derramado tanto sangue inocente”. De modo especial, dirigiu seu pensamento à República Centro-Africana, onde a população sofre por causa das tensões que o país atravessa e que já semearam destruição e morte. “Asseguro a minha oração pelas vítimas e os numerosos desalojados, constrangidos a viver em condições de indigência, espero que a solicitude da Comunidade Internacional contribua para fazer cessar as violências.” Francisco citou ainda a crise no Sudão do Sul, cuja instabilidade política do último período já provocou numerosos mortos e uma nova emergência humanitária.
Na Ásia, por ocasião do cinquentenário das relações diplomáticas com a República da Coreia, o Pontífice pediu a Deus o dom da reconciliação na península. Ao louvar a longa história de convivência pacífica no continente, manifestou preocupação diante de atitudes de fechamento, que tendem a privar os cristãos da sua liberdade e pôr em risco a convivência civil.
O Papa falou ainda do escândalo da fome: “Não podem deixar-nos indiferentes os rostos de quantos padecem fome, sobretudo das crianças, se pensarmos quanta comida é desperdiçada cada dia em tantas partes do mundo, mergulhadas naquela que já várias vezes defini como a «cultura do descarte»”.
Francisco constatou que objeto de descarte não são apenas os alimentos ou os bens supérfluos, mas muitas vezes os próprios seres humanos. “Causa horror só o pensar que haja crianças que não poderão jamais ver a luz, vítimas do aborto, ou aquelas que são usadas como soldados, estupradas ou mortas nos conflitos armados, ou então feitas objeto de mercado naquela tremenda forma de escravidão moderna que é o tráfico dos seres humanos, que é um crime contra a humanidade.”
Os imigrantes também foram citados pelo Papa, em especial as multidões forçadas a fugir da carestia ou das violências e abusos como no Chifre da África, na região dos Grandes Lagos, ou quem sai em busca de uma vida melhor, como é o caso dos numerosos emigrantes latino-americanos que tentam ingressar nos Estados Unidos, e dos africanos que tentam entrar na Europa.
“Continua viva na minha memória a breve visita que realizei a Lampedusa, em julho passado, para rezar pelos numerosos náufragos no Mediterrâneo. Perante tais tragédias, infelizmente, verifica-se uma indiferença geral, constituindo um sinal dramático da perda daquele «sentido da responsabilidade fraterna» sobre o qual assenta toda a sociedade civil.”
Por fim, Francisco mencionou outra ferida à paz, que deriva da ávida exploração dos recursos ambientais, e citou um dito popular: «Deus nos perdoa sempre, mas a natureza – a criação – nunca perdoa quando é maltratada». “Aliás, permanecem diante dos olhos os efeitos devastadores de algumas catástrofes naturais recentes. Em particular, quero lembrar uma vez mais as numerosas vítimas e as graves devastações nas Filipinas e noutros países do sudeste asiático provocadas pelo tufão Haiyan.”
O Papa concluiu citando Paulo VI, quando observava que «a paz não se reduz a uma ausência de guerra, fruto do equilíbrio sempre precário das forças. Constrói-se, dia a dia, na busca duma ordem querida por Deus, que traz consigo uma justiça mais perfeita entre os homens».
“Este é o espírito que anima a ação da Igreja”, disse o Pontífice, reiterando no início deste novo ano, a disponibilidade da Santa Sé em colaborar com os países para favorecer “laços de fraternidade que são reflexo do amor de Deus e fundamento da concórdia e da paz”.
Atualmente, a Santa Sé mantém relações diplomáticas com 180 países. A estes, acrescentam-se a União Europeia, a Soberana Ordem de Malta e uma Missão de caráter especial na Palestina.
No que diz respeito às Organizações Internacionais, a Santa Sé está presente na ONU na qualidade de "Estado observador". Além disso, é membro de sete organizações ou Agências das Nações Unidas, Observador em outras oito e Membro ou Observador em cinco organizações regionais.
O Embaixador brasileiro junto à Santa Sé é Denis Fontes de Souza Pinto.
Fonte: Rádio Vaticano
Imagem: Reprodução CTV
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